Vamos definir o que é ser omisso: Aquele que não se manifesta ou não faz algo em prol de alguém ou alguma coisa. Agora, definindo o que é negar: Dizer que algo não é verdadeiro, não reconhecer, contestar, manter em segredo, esconder, evitar, esquivar-se a, dizer não, deixar de oferecer ou permitir; recusar, mentir. Por fim, o que vem a ser trair: Agir de forma desleal em relação a alguém ou alguma coisa, ser infiel a (em relacionamento amoroso), ficar aquém das expectativas de; decepcionar, deixar de honrar (compromisso, acordo, etc.), deixar de lado; abandonar.
Pedro não apenas tinha um problema muito sério com seu próprio temperamento, mas em segundo lugar, seu caráter o decepcionava imensamente. E decepção com o caráter é uma coisa mais profunda e mais latejante do que com o próprio temperamento. Atinge a essência da sua personalidade! Diante da pressão, quando Jesus é levado para a casa do Sumo Sacerdote Anás, sogro de Caifás, atual Sumo Sacerdote, e está sendo interrogado, Pedro e “um outro” discípulo, após a prisão do Mestre, tomam coragem e o seguem até a entrada do pátio da casa de Anás. É importante ressaltar que Jesus foi levado primeiramente a Anás por questão de honra por parte de Caifás, por ele ser mais idoso e de grande experiência. Cremos que o “outro” discípulo era João, e ele conhecia Anás o suficiente para ganhar acesso à sua casa, e assim acompanhando o Senhor, adentrar ao pátio. Depois, João voltou à porta de entrada, conversou com a porteira (uma moça), trazendo Pedro para dentro do átrio (pátio) Jo 18.13-17. Ao ser descoberto como um possível seguidor de Jesus e sendo questionado por essa mesma razão, ele o nega três vezes (Mt 26.29; Mc 14.67-69; Lc 22.57-59)! A pessoa que o confrontou pela terceira vez, foi insistente e João nos informa que essa pessoa era parente do servo do Sumo Sacerdote (Malco) que sofreu o decepamento de sua orelha no Getsêmani pela ação de Pedro (Jo 18.26). Enquanto desmentia que fazia parte do “rebanho” do Bom Pastor, duas coisas aconteceram simultaneamente: o galo cantou e Jesus voltou e fitou os Seus olhos nele, Pedro (Lc 22.59-61). Foi naquele momento que o apóstolo caiu em si, recordou o que Jesus tinha lhe falado no cenáculo e o seu coração inundou-se de grande mágoa e angústia, retirando-se chorando copiosa e amargamente. E em terceiro lugar, Pedro não tinha só problema com o temperamento e com o caráter, mas contraiu um problema terrível com o seu mundo psicológico. Atrevo-me a dizer que se o conflito de Pedro não fosse interrompido três dias depois, e se ele vivesse no século XXI, não tenham dúvidas, o Pedro estaria enfrentando sérios problemas de ordem psicológica!
Pedro foi ousado em entrar naquele ambiente perturbador! Ele nunca mais esqueceria a cena que veria. O seu amado Mestre estava sendo ferido física e psicologicamente. Ele não acreditava na violência dos agressores de Jesus e nem na passividade do Mestre diante dos mesmos! Afinal, os homens sempre reagem de forma animal coletivamente quando estão irados! Pedro entrou em desespero instalando-se o medo em seu ser e travando sua inteligência. O medo (todo o tipo) nos controla, pois faz parte da constituição humana!
O arrependimento é produzido no coração do homem; é a tristeza segundo Deus. O remorso é a tristeza segundo o mundo e produz morte. Arrependimento é compunção, contrição, insatisfação causada por violação de lei ou de conduta moral, e que resulta na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras violações. Remorso é inquietação de consciência por culpa ou crime cometido; é o chamado peso de consciência! Pedro havia violado um princípio de conduta moral, o da lealdade, mas Deus pôs tristeza em seu coração, produzindo arrependimento para a salvação e a firme disposição de evitar futuras violações. Foi o que salvou Pedro!
Trazendo a atitude de Pedro para o nosso dia-a-dia prático/religioso, percebo que nada mudou... Ainda hoje deixamos de nos posicionar por medo de perder benesses, mesmo sabendo que o sagrado não comunga com o profano. Muitas vezes deixamos de tomar atitudes ao silenciarmos em assuntos de moral, ética, caráter, religião, política, etc., por medo ou receio de sermos excluídos, ignorados e tudo mais que venha a afagar a nossa alma, nos dando uma suposta “estabilidade”. Gostamos de viver na “região do conforto”, da notoriedade, então violentamos nossa consciência e os valores de cidadania terrestre e celestial, onde vez por outra, aplacamos nossa consciência nos valendo dos pedidos de perdão e desculpa, para demonstrar uma falsa espiritualidade, arrependimento e piedade. Será que não foi isso que ocorreu com o apóstolo Pedro? O homem que não é juiz de si mesmo nunca está apto para julgar o comportamento dos outros! Acredite: Não é só o corpo humano que é frágil, mas a sua estrutura psicológica também é! Qual realmente foi a atitude de Pedro?
Nenhum comentário:
Postar um comentário